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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

# Grafite 


 

Grafite ou grafito é o nome dado às inscrições feitas em paredes, desde o Império Romano. Considera-se grafiteuma inscrição caligrafada ou um desenho pintado ou gravado sobre um suporte que não é normalmente previsto para esta finalidade. Por muito tempo visto como um assunto irrelevante ou mera contravenção, atualmente o grafite já é considerado como forma de expressão incluída no âmbito das artes visuais, mais especificamente, da street art ou arte urbana - em que o artista aproveita os espaços públicos, criando uma linguagem intencional para interferir na cidade. Entretanto ainda há quem não concorde, comparando o grafite com a pichação, pois em diversos países ambos configuram crime de Vandalismo quando realizados sem a devida autorização, tanto em propriedade pública ou privada.
   Normalmente distingue-se o grafite, de elaboração mais complexa, da simplespichação, quase sempre considerada como contravenção. No entanto, muitos grafiteiros respeitáveis, como Os gemeos, autores de importantes trabalhos em várias paredes do mundo, aí incluída a grande fachada da Tate Modern de Londres,admitem ter um passado de pichadores. Na língua inglesa, contudo, usa-se o termo graffiti para ambas as expressões.
A partir do movimento contracultural de maio de 1968, quando os muros de Paris foram suporte para inscrições de caráter poético-político, a prática do grafite generalizou-se pelo mundo, em diferentes contextos, tipos e estilos, que vão do simples rabisco ou de tags repetidas ad nauseam, como uma espécie de demarcação de território, até grandes murais executados em espaços especialmente designados para tal, ganhando status de verdadeiras obras de arte. Os grafites podem também estar associados a diferentes movimentos e tribos urbanas, como o hip-hop, e a variados graus de transgressão.
Dentre os grafiteiros, talvez o mais célebre seja Jean-Michel Basquiat, que, no final dos anos 1970, despertou a atenção da imprensa novaiorquina, sobretudo pelas mensagens poéticas que deixava nas paredes dos prédios abandonados de Manhattan.Posteriormente Basquiat ganhou o rótulo de neo-expressionista e foi reconhecido como um dos mais significativos artistas do final do século XX. Atualmente no século XXI, muitas pessoas usam o grafite como arte em museus de arte.

# Termos e Gírias: 

  • 3D - Estilo tridimensional, baseado num trabalho de brilho / sombra das letras.
  • Asdolfinho - Novo estilo de grafite desenvolvido por americanos, no qual é visado a pintura animal.
  • Backjump - Comboio pintado em circulação, enquanto está parado durante o percurso (numa estação por exemplo).
  • Bite - Cópia, influência directa de um estilo de outro writer.
  • Bombing - Grafite rápido, associado à ilegalidade, com letras mais simples e eficazes.
  • Bubble Style - Estilo de letras arredondadas, mais simples e "primárias", mas que é ainda hoje um dos estilos mais presentes no grafite.
  • Cap - Cápsula aplicável às latas para a pulverização do spray. Existem variados caps, que variam consoante a pressão, originando um traço mais suave ou mais grosso (ex: Skinny", "Fat", "NY Fat Cap", etc.).
  • Characters - Retratos, caricaturas, bonecos pintados a grafite.
  • Crew - "Equipa", grupo de amigos que habitualmente pintam juntos e que representam todos o mesmo nome. É regra geral os writers assinarem o seu tag e respectiva crew (normalmente sigla com 2 a 4 letras) em cada obra.
  • Cross - Pintar um grafite ou assinatura por cima de um trabalho de um outro writer.
  • Degradé - Passagem de uma cor para a outra sem um corte directo. Por exemplo uma graduação de diferentes tons da mesma cor.
  • End to end - Carruagem ou comboio pintado de uma extremidade à outra, sem atingir a parte superior do mesmo (por ex. as janelas e parte superior do comboio não são pintadas).
  • Fill-in - Preenchimento (simples ou elaborado) do interior das letras de um grafite.
  • Hall of Fame - Trabalho geralmente legal, mural mais trabalhado onde normalmente pinta mais do que um artista na mesma obra, explorando as técnicas mais evoluídas.
  • Highline - Contorno geral de todo o grafite, posterior ao outline.
  • Hollow - Grafite ou Bomb que não tem fill (preenchimento) algum e, geralmente, é ilegal
  • Inline - Contorno das letras, realizado na parte de dentro das letras.
  • Kings - Writer que adquiriu respeito e admiração dentro da comunidade do grafite. Um estatuto que todos procuram e que está inevitavelmente ligado à qualidade, postura e anos de experiência.
  • Outline - Contorno das letras cuja cor é aplicada igualmente ao volume das mesmas, dando uma noção de tridimensionalidade.
Grafite D;.
  • Roof-top - Grafite aplicado em telhados, outdoors ou outras superfícies elevadas. Um estilo associado ao risco e ao difícil acesso mas que é uma das vertentes mais respeitáveis entre os writers.
  • Spot - Denominação dada ao lugar onde é feito um grafite.
  • Tag - Nome/Pseudónimo do artista.
  • Throw-up - Estilo situado entre o "tag"/assinatura de rua e o bombing. Letras rápidas normalmente sem preenchimento de cor (apenas contorno).
  • Top to bottom" - Carruagem ou carruagens pintadas de cima a baixo, sem chegar no entanto às extremidades horizontais.
  • Toy - O oposto de King. Writer inexperiente, no começo ou que não consegue atingir um nível de qualidade e respeito dentro da comunidade.
  • Train - Denominação de um comboio pintado.
  • Whole Train - Carruagem ou carruagens inteiramente pintadas, de uma ponta à outra e de cima a baixo.
  • Wild Style - Estilo de letras quase ilegível. Um dos primeiros estilos a ser utilizado no surgimento do grafite.
  • Writer - Escritor de grafite.
"Spot": lugar onde é praticado a arte do grafitismo.


# ARTE CONTEMPORÂNEA NO BRASIL





O panorama dos anos 80, que marca a transitoriedade da era moderna para a pós-moderna, se configura no Brasil pela abertura política e a transição democrática (final do regime militar e a instituição das eleições diretas em 1984). Um contexto de desemprego marca o período, enfraquecendo o poder reivindicatório de sindicatos e associações. Cresce no país uma oferta de consumo relativa à indústria cultural e a proliferação tecnológica de consumo doméstico, com CDs, canais de TV a cabo e por assinatura. Apoiados por leis de incentivo fiscal proliferam exposições de arte de grande porte, espetáculos de teatro, balés. A enorme força dos meios de comunicação de massa influenciam fortemente jovens artistas, que formam a chamada Geração 80.

As grandes telas e pinturas vigorosas que caracterizam a produção desta geração incitam um reencontro com o prazer e com a emoção provocados pelos gestos das pinceladas e pela cor, combatendo um certo tédio provocado pela linguagem considerada hermética ou cifrada que caracteriza o projeto de arte concreta ou conceitual. Ao mesmo tempo, estas obras se nutrem de comentários e questionamentos fora do âmbito da arte, que se referem à realidade cotidiana e social brasileira.

As pinturas da Geração 80 são marcadas por se comunicarem imediatamente com o observador. Muitas vezes, essas telas revelam figuras que carregam a sensibilidade dos cartuns e do grafite, espelhando uma manifestação significativa no contexto das cidades nos anos 80. Os grandes formatos se relacionam a essa necessidade rápida e instantânea de chamar a atenção do público.

Os happenings e mostras, que acontecem em locais alternativos estabelecidos fora do circuito comercial são pouco a pouco substituídos por exposições institucionalizadas em galerias e casas de leilão testemunhando um fortalecimento do mercado. Os jovens e talentosos pintores da Geração 80 produzem telas comerciáveis e se integram ao sistema mercadológico. Artistas do momento tornam-se focos da mídia.

Substituindo a característica mental da arte concreta e a agenda claramente política da arte conceitual, a arte da Geração 80 inclui comentários sociais que estão pincelados nas realidades cotidianas, mas se estruturam de formas individuais.

O contexto dos anos 90 terá forte impacto na formação artística da nova geração.

Nesse mundo, o sistema de corporações e o anonimato reestruturam rapidamente as relações construídas sobre um terreno globalizado. A queda do muro de Berlim e o final do comunismo reajustam as estruturas políticas mundiais em favor do neoliberalismo que também começa a ruir com a crescente monopolização dos meios tecnológicos e de informação. A AIDS, o Ebola e outros vírus fatais desafiam um mundo que parecia dominado e controlado pela ciência. A física quântica, o projeto Genoma e as clonagens de DNA relativizam conquistas científicas e apresentam ao mundo uma estreita e complexa ligação entre arte, ciência e tecnologia. A Internet e seus desdobramentos virtuais constroem promessas de núcleos cibernéticos de vida e reafirmam o conforto doméstico dos contatos humanos à distância.

Uma nova espiritualidade, impulsionada pelo final do século e milênio, toma contorno através de pensamentos e atitudes como a chamada new age. Numa onda neoconservadora, revaloriza-se a família e nasce o chamado pós-feminismo.

O crescimento de poluentes, o desgaste da camada de ozônio da estratosfera, o aquecimento generalizado e gradual do planeta e a iminência de uma falta d’água generalizada em médios prazos fazem da ecologia a palavra de ordem de um número crescente de ONGs, ainda que exista a consciência de que problemas ecológicos estejam emaranhados na rede de interesses econômicos dominados pelo Primeiro Mundo.

A importância dada à moda, ao mundo das aparências e “atitudes”, aliado a uma tecnologia sofisticada de cirurgias plásticas, implantes, aparelhos de ginástica, vitaminas e outras substâncias químicas, além das possibilidades de modificações genéticas que se abrem com os primeiros seqüenciamentos cromossômicos fazem do corpo um campo de experimentações futuristas.

Culturalmente, uma busca de experimentações underground, que caracterizavam a vanguarda modernista do século 20, é substituída pela busca de celebridade, transferindo o foco das preocupações e olhares, da produção para o produtor, da obra para o autor. Um exemplo desse tipo de comportamento está no sucesso absoluto da revista Caras, lançada em 1993.

No contexto econômico, uma expansão ditada pelo corporativismo e pela globalização impulsiona a busca de mercados alternativos, lançando discursos politicamente corretos, ao mesmo tempo em que guerras étnicas explodem pelos limites da nova geografia mundial.

As guerras, a pobreza e a instabilidade política e social que marcam muitos países provocam um fluxo geográfico internacional, fazendo que se instaure uma nova noção de identidade e nacionalidade. O espaço flexível e instável, emblemático da era global, se expande em um tempo também marcado pela instabilidade e pela fragmentação de informações e pelo excesso de imagens e de estímulos de diversas naturezas. Tempo e espaço se redefinem na linguagem dos videoclipes da MTV, na comunicação via Internet, nos hipertextos, nos painéis eletrônicos de alta definição e movimento, instalados estrategicamente nas grandes cidades, observados pela massa de automóveis estagnados no trânsito. Junções de grandes corporações como a AOL e a Time Warner transformam a informação em novos e superpotentes monopólios de poder.

A esse panorama costura-se uma consideração fundamental: a noção que a originalidade da criação é um mito modernista. O conceito se alastra com as noções e práticas pós-modernas, ligadas a uma atração pelo passado, pela memória, pelas convenções e clichês. A busca pela originalidade e autenticidade está sendo progressivamente engolida e perdem seu lugar e seu sentido em um mundo gerado pela informação midiática e pela reprodutividade virtual.

Neste contexto numerosos debates a cerca da “crise” da arte se estabelecem em uma sociedade bombardeada por excessos de todos os tipos. O mundo da arte contemporânea, não livre destes excessos, move-se dentro de uma densa rede que envolve o mercado, o sistema de galerias e museus, as feiras nacionais e internacionais, os salões, os curadores, os críticos, as bienais, os colecionadores.

A definição de arte está mergulhada numa condição de estranhamento, gerada pelas experimentações dos artistas do século 20. Isso ocorre a partir das pesquisas do francês Marcel Duchamp, incorporando ao universo artístico a noção de readymade, e no decorrer da arte conceitual nos anos 60 e 70 (ênfase no processo e não no produto), validando como arte uma bula, um cartão postal, um biscoito, uma cópia xerox.

Esta instabilidade, repercutindo em uma sociedade marcada pela informação virtual e pela engenharia genética, desnorteia e intriga. Provoca. Não permite ao artista uma postura descolada destas redes que o amarram a vida. E os artistas contemporâneos não buscam na arte uma resposta transcendental, pura, abstrata e sintética, mas incorporam e comentam a vida em suas grandezas e pequenezas, em seus potenciais de estranhamento e em suas banalidades.